domingo, 28 de outubro de 2012

        Continuação 
        Mulaia,  contos e crônicas.
                                   


                                   Aconteceu com um emigrante
                       Harmad, nascido na cidade de Meca há anos, vivia no  Egito onde fora a procura de melhores condições de vida e de fortuna. Já bastante velho e muito rico, cansado e solitário, sem ter um filho ou uma esposa que lhe amparasse na velhice, resolveu voltar a sua cidade natal.
                                  Consolidou o  seu desejo, mas ficou em dúvida se seus familiares o receberiam bem depois de tantos anos de ausência, se o acolheriam pelo dinheiro que levava ou pela afeição. Todas essas indagações lhe atormentavam e geravam duvida em seus pensamentos.
                               Mas quando uma coisa está escrita "MACTUB', tem que se cumprir nos seus mínimos detalhes, e para que se cumprisse o que aconteceu com Harmad, ele escreveu uma carta a seus irmãos em Meca contando da sua velhice e da sua vontade de voltar ao lar " BAIT EL RABENA" ( casa da família), disse que nada tinha e pedia uma passagem e algumas moedas para alugar um camelo e fazer a longa viagem de volta, pois desejava morrer no seio da família, ocultando assim a sua fortuna para que pudesse tirar uma conclusão da sinceridade de como seria recebido depois de tantos anos de ausência, era natural que com tanto dinheiro que possuía todos iriam aceita-lo.
                            Não tardou e a carta chegou as mãos dos seus irmãos que se reuniram e resolveram não mandar buscar Harmad, e tomando para si a palavra, o  irmão mais velho disse:
                            Para que mandar buscar Harmad!?... Ele nunca nos escreveu durante tanto tempo de ausência, portanto não queremos mais que ele venha, pois segundo diziam os nossos antepassados " mais vale um amigo presente do que um irmão ausente". Todos concordaram, exceto um jovem que sendo amigo da família, e estando presente, observou indignado toda aquela discussão em torno de Harmed e indignado pediu a palavra falando emocionado:
                             Não quero que voces me considerem um intruso, mas queria permissão para mandar buscar o velho Harmed por minha conta, ele foi um grande amigo do meu pai e por conseguinte em homenagem  a essa amizade eu desejava mandar busca-lo.
                              Ouviram e assim os familiares a proposta e do  jovem Rachid e concordaram que o moço o fizesse por conta própria, e que não  tomariam nenhuma providencia pois para eles ficou  resolvido o assunto como disseram.
                               O jovem Rachid não hesitou, enviou o dinheiro por um portador e esperou. Passaram-se muitos meses até chegar as mãos do velho Harmed o dinheiro e uma carta de Rachid, jovem que ele desconhecia. Não perdeu tempo, preparou a caravana e partiu, carregado de muitos camelos e uma fortuna fabulosa, acompanhado de seus empregados seguiu para Meca. Caminharam assim muitos meses para chegar a cidade que lhe havia servido de berço. La chegando mandou deixar os camelos nas estrebarias próximas da cidade e mal vestido caminhou sozinho a procura de Rachid. Encontrando-o foi acolhido com carinho e cavalheirismo, ambos conversaram sobre tudo. Indagando Harmed sobre seus irmãos e seus amigos, ninguém o procurou ou preocupou-se em recebe-lo, visita-lo, não encontrou neles o carinho  e a generosidade do jovem Rachid. Fitando o jovem  com seus olhos cheios de lágrimas falou:
                               Rachid! Es uma pessoa generosa " Karim" (generosa), assim como era seu pai. Estou emocionado com seu  procedimento e sou sinsero em afirmar que aqui não tenho parentes. Va de encontro a minha caravana que ficou nos arredores de Meca, tudo que ela conduz é teu, te ofereço pela sua generosidade. E prosseguindo ainda  sobre a emoção dos acontecimentos, meigamente falou a Rachid. Es meu único e digno herdeiro, quero  apenas  que me acolha em tua casa para que possa viver tranquilamente os anos que me faltam no calendário da minha vida.
                              Não demorou muito e toda Meca já sabia do acontecimento, da fabulosa herança que Harmed havia legado a Rachid, e ainda mais apavorados ficaram os irmãos quando a caravana de camelos entrava nas ruas da cidade do profeta e enchia suas avenidas conduzindo uma grande fortuna. Nestas condições surpresos e arrependidos procuraram os familiares reconciliação, mas foi tarde. E mais uma vez o velho Harmad confirmou sua indignação, e falou  para Rachid.
                               Meu filho, eu vim morrer na minha terra, no seio da minha família, que ria mesmo ouvir dos seus lábios uma palavra que saciasse as saudades de uma longa ausência. Sempre sonhei em voltar a Meca minha cidade querida e trazer comigo o fruto da minha ausência, e viver com eles o resto da minha existência. Mas tudo foi em vão, foi mais um sonho que não se concretizou, eles não vinheram a mim, , tiveram vergonha da minha suposta pobreza aparente, e somente quando souberam da fortuna que eu conduzia chegaram tarde.
                                Chegaste primeiro, foste mais justo e mais nobre, a tua generosidade ma prendeu a ti, e  o que possuo  é teu.
                                 E abraçando-se longamente com o jovem Rachid seguiram juntos e foram viver até quando  ALAH (Deus) determinasse.

      

Nenhum comentário:

Postar um comentário